Ad Costa

Prontudiário

14 folhas com 34 combinações (aproximadamente) 

acetato, papel vegetal, filme rubi e filme radiográfico

técnica mista: colagem, aquarela, caneta hidrográfica e lápis de cor

18 cm x 29 cm cada (aproximadamente) em formato oval

2020


O “prontu” remete ao conceito de prontuário médico, no qual ficam documentados os procedimentos e medicamentos ministrados para o paciente. Esse documento serve como norteador para os médicos e enfermeiros na prestação dos cuidados de saúde. O “diário” por ter um caráter mais pessoal envolvendo meus sentimentos com relação aos medicamentos mencionados no livro de artista. O Prontudiário é dividido em dois volumes: Hemisfério direito e hemisfério esquerdo. O hemisfério direito com sete palavras positivas e emotivas e o esquerdo tem sete palavras negativas e racionais. Junto com as palavras foram usadas técnicas variadas com semelhança nos dois hemisférios. Foram usadas imagens relacionadas com as caixas dos remédios originais e também outras imagens com relações subjetivas a cada medicamento. Cada um possui os três medicamentos que mais consumo em ordem de importância: para mim: Level (Anticoncepcional), Esc (Ansiolítico) e Dorflex (analgésico e relaxante muscular). Os volumes do livro foram presos cada um com um colchete a fim de facilitar a troca das transparências no formato dos hemisférios, como se fosse uma troca de lentes. Cada página de remédio é modificada pelas cores e ausência de cores das camadas com transparências como o do filme radiográfico, do acetato, do papel vegetal e do filme Rubi. Palavras manuscritas nas páginas do Prontudiário: Level D: S/ filhos, s/ cólicas, Acne, proteção, redutor de fluxo, regulador de fluxo, anticoncepcional. Level E: TPM, esquecimento, alterações de humor, acne, aumento de peso, dor de cabeça, hormônios. ESC D: Alívio, controle, Alívio da ansiedade, sonolência, bem-estar, eficiente. ESC E: Dependência, Tarja Vermelha, Escitalopram, sonolência, + peso, serotonina. Dorflex D: Alívio, relaxa, sonolência, bem-estar, barata, TPM, S/ dor. Dorflex E: Cafeína, tensão, dependência, analgésico, cefaleia, insônia, dipirona. O filme radiográfico em circunstância médica real serviria como um instrumento de diagnóstico orgânico. Os materiais usados neste livro foram subvertidos para propor uma análise subjetiva apesar da literalidade das palavras ali manuscritas. A sobreposição dos materiais usados funciona de modo a modificar cada página, criando outros significados. Neste momento de isolamento social se faz necessário analisar o que somos e o que consumimos de uma maneira mais intimista e reflexiva. A luz que atravessa os filtros revela uma parte do meu estado de espírito durante a quarentena, variando seus aspectos transparentes, semitransparentes e obscurecidos. A transparência revela algo escondido, abre, expõe, atravessa, comunica o privado. A transparência é uma qualidade visual do ser humano. É uma experiência racional atravessando o que aparece aos olhos para apoiar-se nos sentidos. A luz que os atravessa não é sensível, é do racional, mas também mostra o que poderia ser algo ligado ao metafísico e espiritual. O filme radiográfico reutilizando o material para adquirir outra conotação como um diagnóstico psicológico e poético sobre o meu estado mental. O acetato sugere com seu caráter transparente um “estado natural” adquirido pela ação dos medicamentos consumidos por mim, ou seja, a naturalização do seu consumo como parte corriqueira da minha vida. O filme Rubi utilizado em serigrafia tem outro uso no Prontudiário. O vermelho sugere alerta, perigo e o cuidado que eu devo ter com os remédios integrantes do livro de artista. Algumas palavras são conceitos-chaves para os componentes materiais do livro. O diagnóstico do Raio X, o “estado natural” e corriqueiro do Acetato, o aspecto semioculto do papel vegetal e o vermelho do filme Rubi que nos faz pensar em algo indicativo de alerta, de cuidado e de perigo.