Daniel de Freitas

TransGênesis 17:1, da série inventários profanos

gilete em aço, aliança em aço, madeira, espuma, veludo e cetim

5 cm x 5 cm x 4 cm

2020

 

A composição de TransGênesis 17:1 nasce a partir do encontro com a poética de Agrippina R. Manhattan,

Linn da Quebrada, Lyz Parayzo e Ventura Profana. e se desvela como uma quebra (também pessoal) de
antigas crenças e ritos. a morte do deus macho e a instauração de uma nova aliança de exaltação e louvor
às deusas. uma subversão de sentidos que intenta profanar e destituir de poder a sacralidade forjada em
nosso sofrimento. uma aliança destruída e uma nova instaurada.
uma boca devoradora, dentes afiados, língua venenosa, armadilha perigosa.
boca, língua, dentes, perigo, veneno, serpente, pecado, autorremissão, criação. recriação. Gênesis. mas
não qualquer Gênesis. TransGênesis. uma nova corpa. renascida do pó. remida. lavada. nela, a gilete
afiada é não mais tomada como um objeto de automutilação, mas como uma arma destruidora, que nos
protege. que nos recria. um elo e uma ameaça. nas palavras de Linn da Quebrada “novas evas. expulsas do
éden, elas. feras que eram mas não são mais. provaram do fruto proibido, chuparam até o caroço. fizeram
de suas folhas & falhas, ervas & evras. de seus corpos sementes. mas não somente. criaram semânticas.
cânticos & louvores. como louva-a-deus se alimentam das entranhas do macho no post coitum . elas
tocaram as trombetas, cantaram & dançaram sob seus velhos túmulos, se livrando do peso dos escombros
que pairavam sob nossos ombros”. adoradas sejam as travas, as trans e as afeminadas. as corpas
dissidentes. a nossa existência.